segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A merda no ventilador

É extremamente lamentável a morte do cinegrafista Santiago Andrade atingido por um rojão na quinta-feira passada. Ao mesmo tempo, num episódio raro, tanto defensores do black bloc quanto extremos opositores quanto o Reinaldo Azevedo tem razão.

Por exemplo, ao contrário do que a comoção geral pareça estar dando ideia, essa não é a primeira morte desde o início das manifestações no ano passado, mas a primeira provocada diretamente pelos manifestantes. Um amigo compartilhou uma lista, que vale a pena enfatizar aqui:
1. a gari Cleonice Vieira de Moraes, em Belém (PA), vítima do gás lacrimogêneo lançado pela polícia militar;

2. 13 mortos na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré (RJ) - neste caso, a imprensa sequer se deu ao trabalho de informar todos os nomes;

3. o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, em Ribeirão Preto (SP), atropelado por um carro que furou um bloqueio de manifestantes;

4. Valdinete Rodrigues Pereira e Maria Aparecida, atropeladas em protesto na BR-251, no distrito de Campos Lindos, em Cristalina (GO);

5. Douglas Henrique de Oliveira, de 21 anos, que caiu do viaduto José Alencar, em Belo Horizonte (MG), por ter sido acuado pela polícia militar. Luiz Felipe Aniceto, que saiu do mesmo viaduto, ficou um mês em coma e também acabou morrendo. No mesmo dia, depois de um toque de recolher ilegal, o morador de rua Luiz Estrela foi espancado até a morte.

6. o marceneiro Igor Oliveira da Silva, de 16 anos, atropelado por um caminhão que fugia de uma manifestação, numa ciclovia próxima à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na altura de Guarujá (SP);

7. Paulo Patrick, de 14 anos, atropelado por um táxi durante manifestação em Teresina (PI);

8. Fernando da Silva Cândido, ator, por inalação de gás lançado pela polícia, no Rio de Janeiro.

9. o senhor que foi atropelado por um ônibus, ao tentar fugir da polícia, na mesma manifestação em que o cinegrafista Santiago foi atingido - sobre esta outra vítima, nenhuma linha na imprensa. Chamava-se Tasman Amaral Accioly e era vendedor ambulante.
Não houve tanta comoção. Isso não significa que não deve haver comoção pelo Santiago. É natural que a mídia vai defender um dos seus. Não é conspiração, nem corporativismo, mas empatia. Mas o fato de que esta não foi a primeira morte das manifestações deve ser mantido em mente.

Agora vou para o outro extremo, um comentário do Reinaldo Azevedo sobre o assunto. Vale a pena ler. Existem alguns fatos importantes ali. Pela primeira vez, acho que não achei algo que eu realmente discordasse.

O resultado disso tudo é que a sociedade, se não estava convencida que as manifestações eram ruins, agora se convenceram. Senadores já estão falando em leis contra "terrorismo". A merda foi jogada no ventilador. E dada a comoção popular, não me surpreenderia que algo assim acontecesse.

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